Quando você me perguntou o que
era, eu te disse que não sabia explicar. Só era, e se você se visse
através dos meus olhos, ia entender. Agora, que tudo se encontra tão
irremediavelmente desfeito, e eu preciso parar de repassar mentalmente nossa despedida, vou tentar explicar o que era. O que ainda é.
Era o beijo na testa durante o
filme quando eu me mexia pra mais perto de você, quase que desafiando as leis
da física, vendo se era mesmo impossível que nossos dois corpos ocupassem o
mesmo espaço. Eram os seus milhões de pen-drives que separavam as musicas por grupos que só faziam sentido pra você mesmo, pra você poder escolher um e colocar no “random” do radio do seu carro.
Era aquela trufa de maracujá no sofá da sua sala que você comeu rápido demais
pra poder terminar de comer a minha. Era o abraço de um milhão de anos no dia
que nos conhecemos. Era o cobertor com
mangas e aquela nossa risada tão boba.
Era a mensagem que não tinha nada
além de uma carinha sorrindo. Era a sopa
com muito queijo.
Era você com a sua cachorrinha no colo e mais
nada. Era você abrindo a porta do carro pra mim no nosso primeiro
encontro. Era você, tão homem, mas tão
inseguro antes de decidir se me dava um beijo. Era você estacionando o carro e
pegando o skate no banco de trás. Era você brincando de me beliscar o caminho todo
até o cinema.
Era a sua barba de uma vez no ano.
Era o filme surpresa. Era como a minha mão ficava pequena dentro da sua. Era eu
deitada na sua frente. Era sua calma de homem feito. Era a sua inveja do meu
copo do homem-aranha. Eram as suas piadas sobre o meu trabalho. Era o abraço na fila pra pagar o
estacionamento. Era a gente em silencio
e em paz e bem.
É o meu coração disparando toda
vez que começa a tocar Bad to the Bone. É tanto de você em quase tudo de mim, e
tão pouco tempo. E agora é tudo o que eu
não queria que fosse. Um mês, um milhão de possibilidades, e o meu coração
partido. É “só” passado, e o seu cheiro vindo de não sei onde, me pegando de
surpresa, só pra eu ser invadida de
tudo-o-que-não-pode-mais-ser você.